Não é possível imaginar a vida moderna sem eletricidade – eletrodomésticos, iluminação, aparelhos de ar-condicionado, computadores, telefones celulares são equipamentos relativamente novos, numa perspectiva histórica, mas que mudaram completamente a vida humana e sua organização social. Com essa revolução tecnológica, nascem riscos que outrora não existiam: curtos-circuitos, sobrecargas, choques elétricos.
Infelizmente, fazem parte de nossa História tragédias como as dos incêndios do Edifício Andraus, em 1972, do Edifício Joelma, em 1974, e, mais recentemente, do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, em 2018. Os três tiveram origem elétrica. De acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL), no ano de 2019 houve 1.662 acidentes de origem elétrica. Destes, 656 foram incêndios causados por sobrecarga de energia – 74 fatais.
Nesta perspectiva, é fundamental que seja de amplo conhecimento a importância do Disjuntor Termomagnético. Este dispositivo é imprescindível para a proteção contra sobrecargas e curtos-circuitos, capaz de impedir pequenos prejuízos materiais, como danos à instalação, e até mesmo salvar vidas.
O disjuntor termomagnético é um dispositivo elétrico de proteção que tem a ação baseada em dois princípios, como o nome sugere: o térmico (contra sobrecargas, com atuação em um período de tempo prolongado) e o magnético (contra curtos-circuitos). De maneira simplificada, o disjuntor interrompe o circuito quando este supera a corrente para a qual está projetado. Além disso, permite o seccionamento, isto é, o desligamento do circuito de forma segura.
É importante entender que o disjuntor termomagnético tem como função básica proteger os elementos da instalação elétrica, como a fiação e tomadas, e não os aparelhos elétricos propriamente ditos.
Figura 1: Exemplos de disjuntores termomagnéticos, de diferentes fabricantes.
É comum que edifícios antigos possuam instalações elétricas que não atendem mais aos atuais padrões de consumo elétrico: basta compararmos a quantidade de aparelhos que temos hoje à de 30 anos atrás. Apesar de mais eficientes energeticamente, hoje temos outras necessidades e maior acesso a equipamentos como ar-condicionado, aquecedores, fritadeiras, computadores, televisores, dentre outros.
Figura 2: Utilização de disjuntores antigos, não normatizados e muitas vezes mal dimensionados: em muitos casos, as Prumadas Elétricas e as demais instalações originais possuem capacidade inferior ao dimensionamento dos novos disjuntores instalados sem critério, eliminando-se, desta forma, a função de proteção dos dispositivos e colocando-se as instalações em grave risco.
Na figura 2, podemos notar uma “solução” perigosíssima: disjuntores mal dimensionados. É comum – e muito imprudente! – que se troque estes dispositivos por outros de maior capacidade, a fim de solucionar os desligamentos que, na verdade, indicam a incapacidade da instalação em atender àquela demanda por energia.
No caso da imagem, um disjuntor de 50A está muito acima da capacidade da instalação, que neste exemplo é de apenas 30A: basta observar os fios que ele deveria proteger. Estes condutores podem sobreaquecer e até mesmo causar incêndios, uma vez que o disjuntor não atuará. Por isso, é fundamental dimensionar adequadamente estes dispositivos.
A substituição destas proteções inadequadas por outras com dimensionamento correto é possível, porém, em muitos casos, acaba causando outro problema para as unidades: devido à redução / adequação dos dispositivos de segurança, impõe-se às unidades o limite de demanda elétrica dimensionado na época em que a edificação foi concebida, que é, em geral, muito inferior às necessidades modernas atuais, provocando-se o constante desligamento destes dispositivos. Neste caso, o ideal é fazer uma reforma para o acréscimo de carga.
Vamos entender um pouco mais a fundo o funcionamento do Disjuntor Termomagnético?
POR DENTRO DO DISJUNTOR TERMOMAGNÉTICO
ESPECIFICAÇÕES
Figura 3: Disjuntor tripolar com suas especificações.
1. A letra C e o número 20 indicam, respectivamente, a curva característica e a corrente nominal do disjuntor. Vamos entender em partes:
1.1 Corrente nominal (em Ampères): é a corrente máxima na qual o dispositivo pode trabalhar sem que haja a atuação da proteção, isto é, sem que o circuito seja interrompido. No exemplo acima, a corrente nominal é de 20A, ou seja, o circuito que o disjuntor protege pode operar até a capacidade máxima de 20A. Acima disto, o disjuntor irá desligar o circuito. O tempo necessário para sua atuação é determinado por sua curva característica;
1.2 Curva característica: é o “DNA” do disjuntor, pois descreve o comportamento do dispositivo em função da corrente que o percorre. No exemplo acima, o disjuntor tem comportamento descrito pela curva característica “C”, ilustrada a seguir:
Figura 4: Curva característica “C” de atuação de um disjuntor. O eixo vertical indica o tempo de atuação (desligamento do circuito) em função do multiplicador da corrente nominal do disjuntor. Em vermelho, um exemplo: caso uma corrente de 100A (5 x 20A) percorra o nosso disjuntor, ele irá atuar em um intervalo de 0.01 a cerca de 8s.
2. Número de pólos: No exemplo acima, trata-se de um disjuntor de três polos (tripolar – 3P), utilizado para circuitos trifásicos;
3. Tensão máxima de operação: No exemplo acima, a tensão máxima de operação é de 400V em corrente alternada, adequado para instalações elétricas de baixa tensão, como residenciais, prediais, comerciais, etc.;
4. Frequência de operação: Em nosso exemplo, o disjuntor é adequado para funcionar em corrente alternada de 50 e 60Hz;
5. Norma técnica: NBR NM 60898 dispõe sobre como deve ser a construção destes disjuntores, os testes a que devem ser submetidos, etc.;
6. Corrente de curto-circuito: indica a corrente máxima de curto-circuito que o disjuntor suporta sem sofrer avarias. Em nosso caso, trata-se de um disjuntor de corrente de curto-circuito máxima de 3000A (3kA).
Figura 5: Esquema interno das partes de um disjuntor genérico.
1. Bimetálico: é a parte responsável pela atuação térmica do disjuntor. É composto por dois tipos de metais, com características de dilatação térmica diferentes. Assim, quando o dispositivo conduz mais corrente do que o permitido, o bimetálico aquece e se deforma – de maneira reversível – interrompendo o circuito.
2. Disparo magnético – bobina: é a parte responsável pela atuação magnética do disjuntor. Trata-se, basicamente, de um eletroímã: quando uma corrente muito alta – de curto-circuito – percorre o disjuntor, esta bobina exerce uma força magnética, que faz com que o contato móvel abra o circuito.